Uma Região, uma Casta, um Espumante, era assim que o projecto liderado pela Comissão Vitivinícola da Bairrada se apresentava em Julho de 2015.
O propósito desta “pedra no charco” bairradina, pode dizer-se que foi triplo. Desde logo pela valorização do espumante produzido na Bairrada e que vale uma quota de 60% do mercado de produção nacional, garantindo o seu crescimento. O segundo objectivo foi igualmente o da sensibilização para a certificação DO Bairrada, que, se há 4 ou 5 anos representava apenas 10 a 15% do volume produzido, hoje representa cerca de 30%, mas ainda está aquém dos objectivos da entidade certificadora. Sobre o terceiro propósito, podemos dizer que houve aqui uma espécie de factor “ovo de Colombo”. Sabendo-se que a casta referência da Bairrada, a Baga, é propensa a maturações muito tardias, que são tão mais tardias quanto maior é a carga deixada na videira, a possibilidades incrementar a produção de uva para espumante, realizando uma primeira vindima, diminuindo substancialmente a carga da videira, permitindo uma vindima para vinho de mesa com muito maior qualidade e num estado de maturação perfeito antes da chegada das chuvas do equinócio, foi uma evidente mais valia para a casta e qualidade dos vinhos.
Os pioneiros do Baga Bairrada
No âmbito deste projecto, estiveram inicialmente 7 reputados enólogos da Bairrada – Antero Silvano, António Selas, Francisco Antunes, João Soares, José Carvalheira, Luís Pato e Osvaldo Amado – que definiram o “caderno de encargos” dos espumantes Baga Bairrada, no qual cabiam a cor – no projecto apostou-se nas vertentes Branco e Rosé – teor alcóolico, acidez total, açúcar residual e tempo de estágio, que, nesta primeira fase, se fixou no mínimo de 9 meses.
A adesão dos produtores era essencial e foram logo 5 os produtores que se associaram e, ainda no ano de 2015, lançaram os seus Baga Bairrada. O tiro de partida coube às Caves São João, com a sua referência Quinta do Poço do Lobo, sendo de imediato secundada pela Aliança Vinhos de Portugal, Adega de Cantanhede, Caves do Solar de São Domingos e Rama & Selas. Destes, as Caves do Solar de São Domingos foram o produtor que conferiu maior exigência ao espumante com a logo marca Baga Bairrada, presenteando os consumidores com um espumante com 7 anos de estágio antes do degorgement.
Os desafios futuros
Volvidos estes três anos, o balanço do projecto é bastante positivo, contando actualmente com 24 referências Baga Bairrada, de perfis e tempo de estágio diferentes, mas unidos por um sentido forte em prol de uma região e uma casta secular na Bairrada. Não sendo um projecto estanque, são vários os espumantes que estão ainda na calha para futuros lançamentos, desafiando a própria entidade mentora a alterações da regulamentação dos Baga Bairrada, de modo a torná-lo um espumante Premium, sujeito a estágios mais longos, que lhe irão conferir maior complexidade e permitirão um incremento do seu preço médio que, na opinião pessoal do cronista, é ainda balizado por baixo.