A Fernão Pires, que na Bairrada muda de sexo e se transforma em Maria Gomes, será ainda hoje a casta branca mais plantada em Portugal, reunindo paixões, desamores, mas nunca gerando consensos.
Sendo generosa na produção, versátil pela utilização em monovarietal ou em lote, em espumantes ou colheitas tardias, precoce na maturação e rica na doçura e compostos aromáticos, tem contra si a baixa acidez e uma enorme susceptibilidade para a oxidação, criando tantas vezes vinhos demasiado curtos, planos e demasiado maduros. Há, contudo, quem já lhe consiga contornar estas características, quer seja pela escolha do tipo de solos, pela vindima mais precoce ou técnicas de vinificação que lhe permitem ter um perfil menos enjoativo.
Na Quinta Valle Madruga existem, à partida, duas condições que permitem à Fernão Pires ultrapassar o seu “handicap”: o solo xistoso e a altitude das vinhas, situadas as 400 m. Procurou- se fazer a vindima numa altura que conjugasse a boa maturação com a preservação da acidez, ainda que o álcool subisse para os 13, 5%. Fermentado em Cuba de inox, com controlo rigoroso de temperatura, o resultado final é um vinho ricamente aromático, com predominância da tangerina doce, fruta tropical evidente, maracujá, papaia madura e um final vegetal de folha de chá. Na boca revela uma acidez pouco contundente, bastante frescura e média persistência. Assume o claro perfil clássico de uma casta que, não obstante viajar por muitas regiões Vitivinicolas do país, não é “plástica”, antes impondo as suas características naturais ao terroir.
Deve beber-se jovem e acompanhado de pratos de peixe. Por aqui, desfilou à mesa com um Goraz assado no forno.
Em garrafeira tem um preço de 5,10 €,