No passado dia 15 de Março, coube ao “no Tacho” apresentar o Cozido Barrosão, tendo convidado para a sua confecção o Chef António Dias
O Cozido, não obstante a nossa convicção patriótica, não é um prato criado cá na terra, aparecendo um pouco por toda a cozinha europeia onde o elo comum é o fogo, a água a e panela, distinguindo-se, depois, pela substância que entrava na cozedura.
Contudo, por cá foi elevado a prato nacional, surgindo um pouco por todas as regiões tendo como característica primordial ser substancial, pesado e focado na qualidade da matéria-prima. Assim, de Trás-os-Montes ao Algarve, o Cozido é à Portuguesa e continua a ser rei e senhor das mesas mais fartas em dias de festança e presença assídua nas cartas dos restaurantes.
O restaurante “no Tacho”, pequeno mas vigoroso espaço de bem comer na Baixa de Coimbra, ali paredes meias com a casa que alberga os restos mortais do Fundador da Nação, desde que abriu portas há pouco mais de um ano, sempre teve uma pedagógica preocupação de trazer aos seus clientes um pouco da melhor gastronomia nacional, quase sempre estribada por produtos certificados. Aliado a esta montra, surge também a valorização e promoção dos vinhos, criando casamentos frutuosos com as iguarias apresentadas.
No passado dia 15 de Março, coube ao “no Tacho” apresentar o Cozido Barrosão, tendo convidado para a sua confecção o Chef António Dias, um auto didacta dos sete ofícios que ganhou a paixão pela cozinha regional transmontana por influência familiar e que tem neste tão especial prato o ex-libris da sua casa em Montalegre (Restaurante Dias, no Largo do Penedo). Em terras de Barroso, o Cozido ganha nome próprio e destaca-se porque, aqui, o porco é rei. E dele pouco ou nada se desdenha para compor o Cozido: orelha, queixada, pernil, pé, carne da peituga entremeada, rabo, tudo fumado, e depois os enchidos, dos quais se destacam a linguiça, chouriço de abóbora, salpicão, sangueira (chouriço de sangue) e, por fim, os ossos. Reza a história que, se fôssemos de casas mais abastadas, também lá surgiam aa galinha e a vitela. Nas casas mais pobres do agreste Norte, havia mesas em que, do porco, só viam o “Pingo”, a alva banha que dava sabor à sopa.
Citando Quitério, apetece dizer que, pelo tempo frio, não há prato que completo que o exceda. Nada mais é preciso comer antes ou depois. E foi assim que uma mesa de alegres convivas, porque o Cozido não é um prato para solitários, se banqueteou, tendo ainda por companhia um magnífico Quinta das Bágeiras Garrafeira branco e PGA tinto, ambos Bairrada e ombrear com substância o opíparo Cozido.