A produtora Filipa Pato, comemora, em 2021, duas décadas de carreira na manufactura de vinhos sem maquilhagem, dos quais 15 anos ao lado do marido, o belga William Wouters, Chef e Sommelier, juntos num trajecto muito personalizado, onde a interpretação da Bairrada tem sido feita no seu estado mais puro e natural.
Filipa nasce para o Mundo dos vinhos com um apelido imenso. Filha de Luis Pato, a produtora nunca se escudou no pai para singrar de forma autónoma e independente. Ambos formados em engenharia química, partilham também a obstinação, resiliência e vontade de afirmar uma ideia muito própria da Bairrada. Em William, Filipa bebeu a mundivisão e uma perspectiva pragmática de criar vinhos não apenas para o mercado português, mas sobretudo para um mundo ávido de vinhos que expressam de forma fidedigna o terroir de cada região.
Se Luis Pato foi o grande impulsionador da casta Baga como bandeira da região, colocando-a nos principais escaparates da imprensa internacional, Filipa trouxe à região uma visão mais apaixonada, com forte pendor romântico, e sobretudo com incidência nas práticas de viticultura ambientalmente sustentáveis.

 

A Carreira

Filipa inicia o seu percurso em 2001, centrando-se na incessante busca de uvas de vinhas velhas adquiridas em Óis do Bairro e, mais tarde, noutras povoações dentro do território da Bairrada – Silvã (Casal Comba, Mealhada), Cantanhede e Sangalhos (Anadia). Ao longo dos anos foi adquirindo outras propriedades e, actualmente, totaliza cerca de 15 hectares, repartidos por Óis do Bairro e Silvã. Pelo meio ainda compra uvas a outros viticultores sobretudo para espumantização, produto que dá “músculo” financeiro à estrutura.
As experiências e aquisição de conhecimento no Velho e Novo Mundo – Filipa trabalhou em França, Argentina e na Austrália – foram colocadas em prática nas suas primeiras experiências de vinificação, numa adega cedida pela avó paterna. Dos primeiros “Ensaios”, a produtora bairradina concluiu que o que a atraia era a possibilidade de explorar as diversas cambiantes do heterogéneo terroir da região, vinificando apenas as castas locais mais tradicionais, a Baga para tranquilos tintos e espumantes, as Bical, Cercial, Maria Gomes e Arinto para os brancos.
William, ainda que noutro sector, o da restauração, teve um percurso semelhante ao de Filipa, iniciando a sua carreira como chef de renome com a ajuda da avó. Conheceram-se em 2006 e, após casamento, começaram por viver em Antuérpia. Em 2014, William vendeu o seu restaurante e deixou igualmente as funções de cozinheiro da selecção belga, função que desempenhou ainda no campeonato europeu realizado em França em 2016. Com o regresso a Portugal, William manteve-se ligado ao mundo da restauração, organizando o campeonato do Mundo de Sommeliers.
Já em Portugal, nascem como equipa de produtores que trazem para a região uma forma de criar vinhos sem maquilhagem, numa prática de viticultura que tendia para a biodinâmica, conceito que hoje assumem na plenitude.



As comemorações


Um percurso tão rico, a que aliaram dezenas de viagens pelo mundo em busca de novas experiências e conhecimento, Filipa Pato & William Wouters tinham mesmo que celebrar a dupla efeméride, vinte anos como produtora independente e quinze anos a trabalhar em equipa, com uma viagem à volta dos seus vinhos e, naturalmente, à mesa.

Durante três dias, e com a colaboração do Chef belga Christian Jobs, Filipa e William levaram até ao seu “secret spot”, o espaço de Óis que congrega casa, restaurante privado e adega, dezenas de jornalistas, parceiros, distribuidores internacionais e amigos, para um “tour” vínico à volta dos seus vinhos. Com 7 momentos distintos à mesa, foram servidos 16 vinhos, nos quais se contam alguns consagrados, como o “Dinâmica” Bical Arinto, “Nossa Calcário”, em versão Magnum, das colheitas de 2014 e 2019, os “Pos Quer…`s” Bical 2019, branco, e os “Pos-Quer…`s” Baga 2015 e 2018, nos tintos, “Nossa Calcário” Baga, das colheitas 2010, 2015 e 2019, este último de Vinhas Velhas. Para o final estavam reservadas algumas surpresas, como os icónicos “Nossa Missão Pré-Philloxera” das colheitas de 2015, 2016 e 2017, vinhos de vinhas com mais de 150 anos de idade e, portanto, de plantação anterior à filoxera, tendo a ela sobrevivido, o “Espirito de Baga” em versão double Magnum, da colheita de 2012, um vinho generoso criado à imagem de outros generosos antigos elaborados pela sua avó muitas décadas antes, e para terminar, um espumante inédito e que marca uma nova era na espumantização na Bairrada, o “Nossa Solera”, um Brut Nature resultante de um lote de 7 bases de espumante de colheitas distintas, estagiados em barrica, e cuja segunda fermentação ocorre com recurso não ao usual vedante metálico, mas à tradicional rolha de cortiça.
Inquieta, insatisfeita, Filipa Pato promete continuar a surpreender com vinhos ousados que respeitam o meio ambiente, cuidando de deixar às gerações vindouras um planeta mais limpo e sustentável.