Sobre o encanto que a Pinot Noir e a Borgonha provocam nos amantes dos grandes vinhos, provavelmente já tudo foi escrito, dito e comentado. E as razões para que, hoje, se encontre a uva plantada em quase todos os recantos do mundo vitivinícola, serão naturalmente a capacidade que a casta detém para produzir vinhos de elegância inigualável, mas, para os mais puristas, também porque se caracteriza por conseguir expressar as virtudes e características de cada terroir, não se impondo, nem se manifestando como um intruso numa terra que não é sua de nascença.
Mas, porque não há “bella”, sem senão, a sua personalidade difícil torna-a caprichosa, não se dando em qualquer lado, mostrando-se, a maioria das vezes, difícil e a exigir condições meteorológicas muitos específicas e, sobretudo, muita arte na viticultura e enologia. Na Bairrada, a Pinot Noir já é uma velha parceira, tendo sido plantada há mais de 130 anos pelos pioneiros da criação do espumante. Curiosamente, terá sido na região vitivinícola do Dão que terá surgido mais recentemente e já neste século, provavelmente na segunda década do mesmo. Nos domínios da “Quinta de Bella”, propriedade do universo Idealdrinks, localizado na aldeia de Prime, vizinha da cidade de Viseu,, a Pinot Noir foi uma das opções pessoais do seu mentor, conhecido amante dos grandes vinhos da Borgonha. Inspirado na ancestral técnica de viticultura “Les Quatre Façons”, suportada na sustentabilidade, na minimização da utilização de fitofármacos, aliado a uma intervenção humana que respeita a terra, o território e a história, criou-se um habitat que, aliado ao “granito nobre”, potencia a expressão natural do terroir e, em virtude disso, a criação de vinhos superlativos.
O “Dom Bella Pinot Noir” da colheita de 2013 é um desses vinhos superlativos ali nascidos. Na cor não engana, mostrando as nuances rubi aberto e brilhante, translúcido e intrigante no copo. A subtileza aromática cativa-nos a deixá-lo ali no nariz durante momentos longos, apreciando-lhe a pureza da fruta fresca, cereja, amora, compota de ameixa, especiaria, erva-doce e, a pedra de toque, as notas de caruma, ligeira resina, que nos levam a não ter dúvidas que estamos no pedregoso Dão, assumindo-se o vinho como um verdadeiro “filho da terra”.
Na boca, a primeira reacção é voltarmos a olhar o contra-rótulo para confirmar se o vinho possui mesmo os ditos 14,5 % vol.. Inacreditável frescura, perfeito equilíbrio de acidez, madeira de qualidade muito bem integrada, surgindo subtilmente para harmonizar os elementos, nunca se impondo, tanino sedoso, numa composição de puro prazer e deleite que só os grandes vinhos proporcionam. Num segundo gole, voltamos a observar o contra-rótulo por não acreditarmos que um vinho de 2013 se mostre com uma notável e invejável juventude, dando jus à fama que a Pinot Noir possui de criar vinhos longevos e imaculados. Acredito que também tenham sido os anos passados que contribuíram para fazer nascer um tão nobre e bem casado vinho.