A primeira referência escrita à origem da Alvarinho é-nos trazida em 1790, por Lacerda Lobo, que a referencia como nascida na sub-região de Melgaço. Mais tarde, já no século XIX, a sua origem já se torna mais difusa e dispersa, apontando, além da anterior, para as Rias Baixas, na Galiza. Os registos de então não lhe dão particular importância e valor na criação de vinhos de qualidade, afirmando Ferreira Lapa que a Alvarinho daria pouco vinho e de qualidade inferior, sendo unânime que a descoberta e reconhecimento do potencial da uva para criar grandes vinhos só surge no século XX, com o Eng. Galhano (CVRVV). Terá sido a partir daí que se criou o mote para uma expansão da plantação da casta e criação de vinhos memoráveis, susceptíveis de se tornarem mais ricos quando estagiados em madeira e com elevado potencial de envelhecimento.
O Quinta Dˋ Amares Vinesa Alvarinho Barrica 2018, que digo já à partida me “encheu as medidas”, pode muito bem ser um desses exemplares que demonstra que a casta é tudo menos unidimensional e, quando trabalhada por quem mostra conhecê-la da vinha à adega, cria vinhos de absoluta memorabilidade.
A Quinta revela o peso da história que a circunda, envolvendo um vigilante Mosteiro de Santo André de Rendufe, edificação do século XI, sendo ainda rasgada pelo Aqueduto do século XVII. Com mais de 55 hectares de vinha, é objectivo primordial que os vinhos reflictam a exuberância do verde que domina a propriedade com exposição privilegiada a Sul, o que a torna bastante soalheira, beneficiando da protecção do Parque Natural da Peneda-Gerês, guardião de todo o vale do Cávado. Os Quinta DˋAmares Vinesa constituem um desafio feito à equipa de enologia, tendente à criação de vinhos ainda mais puros e expressivos das castas mais expressivas plantadas, a Alvarinho e a Loureiro. Complexidade, estrutura e corpo, com estágios em madeira não demasiadamente expressivo, permitindo que a uva e as suas potencialidades sejam a Rainha e Senhora do vinho.
De cor amarelo palha, com reflexos citrinos, o Alvarinho Barrica expressa-se com um aroma muito rico, com predominância para as flores do campo, discreto, ligeiro fruto seco, avelã, frescura olfactiva. Na boca mostra o reverso, apresentando intensidade, belíssima frescura, madeira bem integrada, que lhe conferiu untuosidade, cremosidade, baunilha quase imperceptível, bela estrutura, teor alcoólico adequado (13,0 %) e, acima de tudo, aquela acidez pungente que mostra a raça da Alvarinho. Sem as exuberâncias tropicais, é na boca que ele nos cativa e vicia, a ponto de começarmos logo a imaginar as variadas combinações gastronómicas que podemos ter com este grande vinho, a pedir intensidade e comida bem condimentada, incluindo, sem exagero, proteína.
Quando tantas vezes vemos comentários acerca do elevado preço dos vinhos portugueses, era bom que também reconhecêssemos que, nalgumas casos, os vinhos estão bem abaixo do seu real valor, como é o caso do Quinta Dˋ Amares Vinesa Alvarinho Barrica 2018. Vinho absolutamente recomendado.