A História do Espumante português cumpre este ano a bonita idade de 131 anos, cabendo recordar que, em 1890, saem das “pupitres” da Escola Prática de Anadia, na Bairrada, as primeiras garrafas do vinho cuja segunda fermentação ocorria em garrafa. O autor da proeza era o já proeminente Eng. Tavares da Silva, director daquela instituição.
O processo, esse, iniciou-se um ano antes quando Tavares da Silva, bairradino, nascido em Casal de Álvaro, Águeda, em 1854, chega à Escola Prática com o firme propósito de criar o espumante em Portugal. As tentativas infrutíferas iniciadas na Estação Anti-Filoxérica da Régua não o demoveram. Visitou Epernay e Reims, correspondeu-se com diversos especialistas franceses, entre eles o reputado E. Robinet, até conseguir dominar os complexos processos do método champanhês. Dominada a técnica, já no ano seguinte, foi dado o passo que se impunha: criar condições para fazer face à concorrência do mercado, ou seja, iniciar em larga escala, à escala comercial, a preparação dos vinho. E é isso que ocorrerá pouco tempo depois.
A 17 de Setembro de 1893, Tavares da Silva apresenta ao mundo os quatro tipos de vinho “Champagne”em casa do Conselheiro José Luciano de Castro. Em prova estiveram “trez dˋ esses typos a que se concordou dar o nome de Secco, Supra e Excelsior”. Com aqueles dois haviam de estar José Paulo Cancela, o Padre António Alves de Mariz e o grande visionário Justino de Sampaio Alegre. Nascia ali o compromisso, sem jamais tergiversar, de elevar ao Olimpo onde mandam os Deuses o Espumante da Bairrada, Champagne de Portugal.
A partir daí, há toda uma indústria que floresce no início do século XX, surgindo as grandes casas engarrafadoras. De França, vieram as técnicas, os técnicos e as famosas castas que em Champagne produziam a bebida glamourosa, a Pinot Noir e a Chardonnay, que, plantadas na Bairrada, por cá permaneceram até aos dias de hoje e são, muito justamente, parte do que é a história e tradição da mui nobre arte de fazer espumante , criando alguns dos mais belos exemplares da região. A evolução dos processos ao longo dos anos introduziu também as castas autóctones na espumantização em sã harmonização com as uvas clássicas da Champagne. Hoje, na Bairrada, criam-se espumantes diferenciados, cuja base vínica provém das mais variadas uvas brancas e tintas.
Hoje falamo-vos de um espumante absolutamente especial – Lopo de Freitas Espumante Bruto 2014, das Caves São Domingos. E se é possível falar de perfeição nos espumantes da Bairrada, este é absolutamente incontornável. Produzido a partir da, para mim, casta branca rainha da Bairrada, a Cercial (70%) e a clássica Chardonnay (30%), só vê a luz do dia em anos absolutamente excepcionais em que os astros se conjugam e alinham para criar as perfeitas condições, em que todos os elementos dançam numa cadência perfeita para fazer da vinha brotar a melhor das uvas. A data da vindima para espumante é controlada com uma precisão científica de modo a que a cinética da maturação permita levar para a adega a matéria-prima em exemplar estado de conservação. Após a segunda fermentação em garrafa, o vinho é estagiado por um período de 48 meses nas caves subterrâneas a temperatura constante de 12º C, permitindo-lhe, neste processo longo, encontrar a subtileza aromática, a harmonia e a sua riqueza intrínseca. Após degorgement a garrafa ainda permanece em cave mais 2 meses em estabilização dos elementos e, a partir daí, está pronta a entrar no mercado. Uma curiosidade é que o degorgement é feito à medida das necessidades do mercado, o que permite hoje adquirirmos o espumante com uns belíssimos 60 meses de estágio. De cor citrina, exibe galhardamente uma bolha de extrema fineza, que sobe pelo copo Zieher Vision escolhido com um cordão lento, qual colar de pérolas em movimentos lânguidos. No nariz cativa ao primeiro movimento, fazendo-nos esboçar um sorriso de prazer pela riqueza aromática de suaves notas florais, percepção de mineralidade, maçã cozida, avelã e tostado suave. Uma miríade desafiante de aromas que o tornam desafiante. Na boca, exala frescura, elegância, patine, numa mousse envolvente, suave e que nos preenche cada recanto da boca. A acidez é perfeita, conferindo-lhe uma vertente gastronómica elevada para pratos onde o elemento natural deve ser privilegiado, como as ostras, ceviche de salmão, tártaro de atum, sendo igualmente o espumante perfeito para ser bebido em ambiente de convívio e sem qualquer acompanhamento.
Este Lopo de Freitas honra a já longa história destes vinhos na Bairrada, sendo absolutamente obrigatório ser conhecido por todos os amantes de espumantes que elevam a qualidade ao topo.
Pode ser encontrado nas garrafeiras a um preço que rondará os 21,00 €.