Portugal, à semelhança de Itália, será o país com mais castas autóctones, contando-se cerca de 300. E se há regiões vitivinícolas que não se distinguem por uma ou mais castas identitárias, no Dão essa questão está resolvida há vários anos, sendo a Encruzado a rainha das castas brancas.
O curioso é que, não há registos da casta até ao século XX, não havendo qualquer menção na literatura, por exemplo, do século XIX sobre a Encruzado, encontrando-se apenas algumas referências no período coincidente com a II Guerra Mundial, associada à região de Viseu. E se a uva historicamente só surgia em vinhas misturadas, foi somente na década de 50 do século passado que Alberto Cardoso de Vilhena (Centro de Estudos Vitivinícolas de Nelas) iniciou um projecto no qual as plantações em parcelas únicas de Encruzado, o seu estudo e exploração foram realizadas, instituindo também a sua microvinificação.
Daí até à sua consagração como a grande casta branca do Dão foi um pequeno passo, com inegáveis vantagens para os viticultores que nela encontram uma casta de viticultura fácil, bom amadurecimento, produções regulares e, sobretudo, bastante resistente às doenças. A que acresce a sua enorme adaptabilidade aos solos do Dão, única região onde encontra a excelência.
Manuel Pereira de Melo, co-adjuvado pelos enólogos Anselmo Mendes e Patrícia Santos, terá igualmente concordado que é nas terras do Dão que a Encruzado encontra o seu berço. A aposta do seu plantio na Quinta do Coladinho foi uma decisão natural e os resultados estão à vista, neste Primado Encruzado 2018, um vinho limpo, directo e onde o aroma varietal se impõe, pelo facto de o único contacto com a madeira ter sido na vetusta prensa. Inicialmente contido, abre em contacto com o oxigénio e revela a sua identidade beirã – floral, cítrico ácido e mineral. Mas, pessoalmente, é na boca que de bom vinho passa a grande vinho. Denso, estruturado, quase untuoso, um “kick” de secura inicial que, depois, desagua para a elegância, frescura e uma bela harmonia entre todos os componentes, terminando com uma infindável persistência. Resulta de um exímio trabalho de adega, onde os enólogos foram os “personal trainers” da Encruzado, permitindo-lhe expressar uma forma notável nos nossos copos.
Tem um PVP de cerca de 14.00€.