Produtor: Quinta da Barca
Região: Douro (Baixo Corgo)
Tipo: Tinto
Castas: Touriga Nacional
Enologia: Nuno Felgar/Pedro Coutinho
Teor Alcoólico: 14,4%
Acidez Total: 5,4 g/l

Há dias lia a um amigo, produtor de belíssimos espumantes no Douro, que a região tinha pouca atenção da imprensa e dos bloggers, e dei por mim a perguntar-me se isso corresponderia à verdade. Sendo eu um homem da Bairrada, seria natural que a veia de prosador sobre vinhos se centrasse nesta tão peculiar região. Contudo, ao olhar para várias das minhas últimas crónicas, constato que o fascínio pelo Douro é cada vez maior, como se houvesse uma espécie de “chamamento” para esta tão poderosa região e que, uma vez visitada, nos cativa eternamente.

Parte do fascínio vem da constatação do quão humanamente exigente se torna sangrar as uvas para o vinho nesta região feita de penhascos e socalcos rasgados na rocha, criando paisagens de uma beleza de nos tirar o fôlego, linhas curvas que serpenteiam sob as margens do rio, vestindo-se de verde na Primavera e despindo-se no Inverno.

Daí que, cada crónica sobre esta região seja cada vez mais um acto de devoção e tributo.

O vinho sobre o qual escrevemos hoje também é ele próprio um tributo, o “Busto”, que não podia ser Quinta da Barca, homenageia o homem que criou a Região Demarcada do Douro. E, neste Grande Escolha, da colheita de 2016, sente-se o peso do Douro e do ano, muito complicado e que exigiu um cuidado e atenção redobrada no acompanhamento da vinha e na Adega. Ciclo iniciado com temperaturas muito elevadas, precipitação irregular, concluindo-se com um inverno quente e chuvoso e uma Primavera anormalmente fria e chuvosa, resultando numa quebra da produção em quantidade. Bom, mas no que toca à qualidade, a uva foi bafejada pela boa fortuna e permitiu que a Adega criasse um vinho notável e até com nuances mais atractivas que outros de anos mais amenos.

 

De cor vermelha rubi intensa, conquista-nos pela riqueza no nariz, onde se evidenciam as notas florais, a cereja madura, frescura média, pimenta, cacau e uma ligeira torrefacção dada pela boa madeira onde estagiou. Na boca, é opulento, caloroso, com vigor alcoólico compensado por alguma frescura. A macieza do tanino torna-o quase voluptuoso, atractivo mas sempre a pedir boa e genuína gastronomia a acompanhar, possuindo, além disso, uma acidez expressiva que lhe dará também uma interessante longevidade.

Os vinhos da Quinta da Barca, não obstante ainda não possuírem a tradição secular de algumas casas do Douro, pisam actualmente terrenos bem firmes, de consistência nas suas várias referências e são uma das casas a seguir com muita atenção no futuro, até porque também nos trarão brevemente uma novidade borbulhante.