Se recuarmos até à época da ocupação romana, encontramos os primeiros registos de plantação de vinha e produção de vinho na região que hoje conhecemos como Bairrada. Provavelmente, a origem até é mais remota, mas os primeiros registos documentados surgem através deste povo civilizado que nos deixou esse legado. A obra do ilustre aguinense José Rodrigues, “Couto de Aguim”, reune vasta documentação sobre este período, centrando-se na “Villa Aquilini”(séculos I a V D.C.).
De então para cá, a vitivinicultura foi uma constante nesta região e em todas as suas povoações, constituindo a cultura da vinha um factor unificador das mesmas, criando um enorme “bairro rural, isto é, subúrbio extenso” ou “conjunto de bairros” (Rodrigues, 1959, in Silveira, 1994) – a Bairrada.
Curioso é também que o factor unificador da região à volta da vinha tenha também, desde tempos imemoriais, uma similitude de solos onde as mesmas eram plantadas. Dos estudos geológicos já realizados, concluiu-se que a vinha na Bairrada sempre teve a sua maior implantação em “unidades calco-margosas e dolomíticas do Jurássico”, solos fortemente calcários e com presença de argila. Levando-nos a concluir que, durante dois milénios, os bairradinos usaram não só do método da tentativa e correcção do erro, mas mostraram conhecimentos científicos de geologia para encontrar os melhores solos para a optimização da plantação da vinha, colhendo nós hoje muitos dos frutos desse percurso secular.
Aqui chegados, e após concluirmos que os “antigos” sabiam muito de solos, avançamos obrigatoriamente para as castas e para este vinho em particular.
António Augusto de Aguiar, em 1866, visitou a Bairrada num período de transição pós-crise das doenças que dizimaram muitos dos vinhedos da região. E, nos seus escritos, demonizou a Baga que, segundo ele, vinda do Dão, era de fraca descendência e não acrescentaria valor aos tintos desta região que, à data, eram compostos por Castelão, Bastardo, Moreto e, esqueceu-se ele, também de Baga, que, já existindo na região, não dominava o encepamento da Bairrada. Daí que este vinho que hoje A LEI DO VINHO vos traz, seja muito mais que um mero tinto, sendo antes um pedaço da história da região. Se quiserem, pode ele ser considerado o “pecado original” da região que nunca foi só feita de Baga, mas também o era desta casta que, erroneamente, a transportamos para o Dão mas, certamente, fazia parte do genoma da região há vários séculos, tal como muitas outras que, infelizmente, foram desaparecendo do nosso quotidiano. A ciência e o conhecimento que os bairradinos colocaram na selecção dos solos para a vinha, também a colocaram na escolha das castas que mutuamente se corrigiam para criar os vinhos mais perfeitos. Este, oriundo da propriedade que as Caves São João possuem na Pocariça, é um dos melhores exemplos, mas também raros, de uma Bairrada que praticamente deixou de existir no século XX e que devia ser recuperada.