Subindo ao primeiro andar encontramos duas salas bem compostas, com decoração rústica e uma lareira onde a maioria dos pratos são confeccionados à vista do cliente. As mesas são coloridas por toalhas finas com motivos florais, fazendo recordar, como se pretende, outras mesas do nosso passado distante. A simpatia e o bem servir são o lema deste espaço que nos faz sentir em casa à primeira troca de palavras, fazendo antever que, ali, trabalha-se pela paixão do que se faz e a satisfação do cliente é o que enche o coração dos seus proprietários.
Com uma ementa de pratos diários e uma ementa fixa, aquela fria sexta-feira convidava-nos às seguintes sugestões: Sopa de Nabiças, Papas de Sarrabulho, Caldo de Casúlas, Caldeirada de Lulas, Arroz de Forno, Massada de Vitela e Costoletas de Borrego na Brasa. Depois há uma outra carta sugestiva onde aparecem o Bacalhau com Broa, o Bacalhau em Crosta de Allheira. Posta à Stramuntana, Vitelinha Assada no Forno, Massa à Lavrador, Plumas de Porco Ibérico na Brasa, Tomahawk na Brasa e Lombinhos de Boi na Brasa.
Não esquecer que o Stramuntana também possui um outro espaço no piso térreo, o Soto Antigo, mercearia onde podem ser adquiridos diversos produtos tradicionais, ao mesmo tempo que se degusta a petiscaria acompanhada de um vinho da robusta garrafeira ali defronte dos nossos olhos. Alheira Grelhada, Chouriço de Javali na Brasa, Linguiça de Porco Bísaro, Cogumelos Salteados com Ervas ou Farinheira Frita com Grelos são algumas das opções que se recomendam para um fim de tarde bem passado no Soto.
Para ir confortando o estômago, foi-nos servida uma tábua onde pontificavam os queijos e enchidos, todos de óptima qualidade. De seguida, optámos por um dos pratos da “diária”, um magistral Arroz de Forno, com uma crosta ligeiramente crocante como que a preservar todos os sabores que nos viriam a chegar ao prato. Arroz solto, carnes no ponto, sabores exímios apenas alcançados por mãos experimentadas. Não possuindo Carta de Vinhos, o Stramuntana convida os clientes a espreitar o vasto leque de opções ali à vista, com uma opção muito valorosa para regiões vitivinícolas periféricas, com natural primazia para Trás-os-Montes. A nossa escolha recaiu num Busto Touriga Nacional 2010, da Quinta da Barca, um Douro opulento e surpreendentemente jovem, ideal para o prato de forno, brilhando igualmente no Bacalhau com Crosta de Alheira que se lhe seguiu. Uma posta opulenta, bem demolhada, com a suculência bem temperada com a acidez do crocante da Alheira, saborosa e intensa.
Quase no final da refeição, a sala é invadida por um inebriante aroma de Café de Cafeteira feito ao Lume, transportando-nos para a infância do nosso contentamento, das memórias genuínas das lareiras das nossas avós. Perante a abastança da mesa, já não nos foi possível a companhia da doçaria do Stramuntana, uma bela mostra de receituário antigo, onde surgem os Milhos Doces, Rabanadas, Doce da Casa, Maçã Assada, Cuscos Doces, Pudim de Grelos e Pêra Bêbeda.
Fico sinceramente grato àqueles que, em tempos de tormenta e desalento, estão ali para nos preservar a fé no bem servir, na comida genuína, sem artifícios e preparada por mãos apaixonadas pela arte. Não foi apenas uma refeição, mas sobretudo uma lição de vida e de reforço da nossa confiança num Portugal de tradições que se perpetuam e servem para mostrar a nossa grandeza.
O Stramuntana- Soto Antigo é um local de peregrinação obrigatória a Norte. Um sacro-santo espaço de devoção, que nos lava a alma e acalenta o estômago.
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