A coincidência que despoletou uma visita à Vinha na Fidalga, no Dão, e a uma longa conversa com a enóloga e, agora, também Presidente do Conselho de Administração da LUSOVINI, iniciou-se na cidade da Guarda, no restaurante “Nobre – Vinhos & Tal”. No meio de um almoço onde a Beira Interior dominava, chegou-me à mesa, para prova, o Pedra Cancela “Vinha da Fidalga” Encruzado, branco expressivo e bastante sério, pouco usual até para o perfil da casta.
Daí até combinar uma conversa com Sónia Martins, foi um ápice. Ou não estivéssemos perante uma mulher em que a vertente prática de “fazer coisas” é a sua principal característica.
Foi numa quente tarde de Verão do Dão que A Lei do Vinho viajou até à “Vinha da Fidalga”, em Carregal do Sal, propriedade que é o mais recente investimento da LUSOVINI, com uma área total de 25 hectares, 15 deles de vinha plantada e os restantes de arvoredo autóctone que cria largas zonas de sombra e influencia os próprios vinhos que dali nascem.
Sónia Martins, sócia fundadora da empresa, era, até Maio passado, directora de enologia. Numa decisão que burilava há bastante tempo, Casimiro Gomes, o líder do grupo, numa manifestação de confiança pela capacidade de trabalho da enóloga, a quem desde há muito reconhecia capacidade de liderança, escolheu-a para liderar a LUSOVINI, posição aceite pelos seus pares. Esta alteração na administração, para além de ser uma decisão pessoalmente bem ponderada de Casimiro Gomes, teve também uma motivação estratégica para o grupo empresarial que pretendia colocar o vinho e, obviamente, a vinha no topo das prioridades do negócio. Contudo, esta decisão não constitui um afastamento do anterior líder, que, doravante, centrará a sua intervenção na área da viticultura, sua área de formação e grande paixão.
Em entrevista sobre as novas responsabilidades, Sónia Martins sorri com a segurança de quem não receia os desafios, afirmando que a motivação até é maior nestes tempos de pandemia que tanto afectam o sector, estando perfeitamente preparada para enfrentar estes desafios com a certeza que só o trabalho árduo consegue produzir bons resultados. A consciência do tamanho do barco que irá fazer navegar por mares hoje tão turbulentos é mais um aditivo motivacional. O universo LUSOVINI possui hoje cerca de 106 hectares dispersos geograficamente entre Douro, Dão, Bairrada e Alentejo. A “Vinha da Fidalga”, no Dão, será, para além do mais recente investimento, a “jóia da coroa” do Grupo e base central dos vinhos “Pedra Cancela”, que comemoram 20 anos em 2020, celebração que culminará com o lançamento de um vinho que se adivinha memorável.
A “Vinha da Fidalga”, além de se constituir um paraíso paisagístico onde o tempo passa devagar, é igualmente um templo de experiências vitivinícolas. Consciente de que o Dão possui um património vitícola vastíssimo, aos 15 hectares de vinha já plantados, Sónia Martins quer somar mais 5 hectares. O conjunto de variedades comporta hoje Alfrocheiro, Aragonez, Barcelo, Cerceal-Branco, Encruzado, Terrantez do Dão, Touriga Nacional e Uva Cão. A estas seguem-se a Arinto do Interior, Douradinha, Gouveio, Malvasia Preta e Monvedro. Para esta recuperação e preservação de castas em extinção, a LUSOVINI contou com a colaboração técnica do Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão, em Nelas, em cujas fileiras milita Vanda Pedroso, uma das mais reputadas especialistas de viticultura em Portugal. A preciosa parceria foi essencial pela imensidão de informação partilhada, que permite à LUSOVINI estudar as características daquelas castas em risco, implementando o seu plantio e criação de vinhos tendo em conta as características de cada uma, fazendo surgir vinhos diferenciados, singulares e, ao mesmo tempo, constituindo-se como guardiões e último bastião da preservação de uma identidade única do Dão. Sónia Martins assume que a intenção clara é essa, de criar vinhos únicos, reproduzindo os saberes antigos, aplicando-os na procura da singularidade, abrindo assim portas ao surgimento de novas referências “Pedra Cancela”.
Sem receio do futuro, Sónia Martins projecta investimentos para aquele conjunto de vinhas e arvoredo, onde pontificam cedros, oliveiras, carvalhos americanos, nogueiras, aveleiras e muitas outras variedades. O enoturismo é um dos objectivos, havendo também a ambição de ali criar um dos melhores espaços do mundo. E, olhando para o brilho dos seus olhos, acreditamos que estes sonhos serão transformados em obra, e muito em breve.