A Bairrada tem destas coisas. Vinhos que não só nos desafiam, como se desafiam a si próprios e ao tempo que os lapida de modo a tornaram-se ainda mais cintilantes.
A última, e belíssima, experiência tive-a com este Chardonnay, criado pelas Colinas de S. Lourenço em 2009, de uvas de uma casta que mora na Bairrada há, pelo menos, 130 anos.
Já não é novidade para ninguém que os brancos nesta região são longevos, conferindo-lhe o tempo uma elegância singular. O segredo reside na conjugação de factores que, alinhados, criam obras de arte líquidas. Há desde logo o clima que beneficia da frescura atlântica e do manto protector das serras do Caramulo e Bussaco. Depois, surge a composição dos solos, onde a vertente calcária das suaves colinas confere uma mineralidade convincente aos brancos.
Por fim, há uma quase intervenção divina de um enólogo que será, provavelmente, um dos maiores conhecedores mundiais da adaptabilidade das castas a cada terroir.
Desta conjugação nasceu um vinho que, após quase uma década em garrafa, afinou as qualidades, mostrando um nariz riquíssimo, pleno de frutos secos, crocância e notas fumadas. Na boca é soberbo, fresco, mineral, salino, com um grande corpo, quase untuoso e imensamente prazeroso à mesa.
É um branco absolutamente marcante e das quais restam, infelizmente para nós, muito poucas garrafas.
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