A quem pertence um vinho do Porto de 1947, criado e guardado durante 71 anos na serenidade dos grandes tonéis que as Caves Messias, empresa sediada na Bairrada, possuem nos seus imponentes armazéns de Gaia? Aos homens que escolheram as uvas nas inclinadas encostas xistosas do Douro naquele Verão longínquo? Àqueles que atentamente observavam os enormes lagares de granito, testaram a doçura do mosto e escolheram o ponto certo de fermentação para adição da aguardente a 77%? Ou às gerações que o guardaram e dele cuidaram para que tenha chegado aos nossos tempos tão sublime?
Este já ultrapassou as sete décadas de vida e o passar dos anos só lhe confere detalhes de finura, filigrana vínica onde cada pormenor deve ser apreciado longamente.
A arte do vinho do Porto mede-se em décadas porque a perfeição só o tempo, muito tempo mesmo, a pode moldar. Este já ultrapassou as sete décadas de vida e o passar dos anos só lhe confere detalhes de finura, filigrana vínica onde cada pormenor deve ser apreciado longamente. Revela um alourado escuro, sugestionando uma grande incidência de tons esverdeados. O aroma é enciclopédico, vasto e leva-nos a paragens longínquas numa enorme paleta de especiarias, aromas terciários e o crucial vinagrinho. Na boca exprime corpo, untuosidade e complexidade só ao alcance dos eleitos, confirmando em sabor tudo o que tinha já revelado nos aromas. Ataca-nos com potência e eterniza-se na boca e na mente.
É um dos mais perfeitos vinhos do Porto que alguma vez tive a bênção de provar. Custa cerca de 700,00 €, mas vale cada gota desta experiência messiânica.
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