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ROSÉS DA BAIRRADA

Tempos houve em que os vinhos rosados em Portugal, não sendo a Bairrada excepção, eram olhados de soslaio. O preconceito considerava-os vinhos menores, criados a partir de uvas de menor qualidade, vinhos para consumo fácil no verão à beira da piscina, excessivamente frutados, doces e… femininos, seja lá o que for que isso quer dizer.

Os últimos anos, contudo, têm alterado o paradigma dos rosés. E na própria região o vinho tem sido encarado como um produto sério e uma mais valia do portfólio dos produtores que, nalguns casos, até apresentam mais do que um Rosé na carteira da oferta de vinhos. Para esta alteração, não terá sido despicienda a influência provençal e francesa, onde o Rosé é desde há muito encarado como um produto premium. A França sozinha detém quase 30% da produção mundial deste tipo de vinho, privilegiando os com apelação de origem (AOC) da Provença, Loire e Rhône.

No panorama nacional, o perfil mais comum na recente vaga dos rosés da Bairrada apresenta, desde logo, imensas vantagens que estão directamente relacionadas com o terroir. A região cria tendencialmente vinhos frescos, atlânticos, com uma leve salinidade, acidez vibrante e teor alcóolico comedido. Ora, a proposta que apresentamos neste especial sobre rosés da Bairrada é sobretudo um convite a conhecerem 7 rosés com perfil diferente, mas com um um vector comum e que torna este tipo de vinhos na Bairrada diferentes, versáteis, imensamente gastronómicos e adequados a todas as estações do ano. Nas nossas propostas, surgem rosados de mistura de vinhos brancos e tintos ou aqueles que resultam apenas de uvas tintas, sujeitas a contacto reduzido e controlado ou mais intenso dos mostos com as películas, daí resultando cores rosadas abertas, salmão ou cereja, consoante o menor ou maior contacto pelicular.

 

AS PROPOSTAS

A primeira sugestão vai para o varietal da ADEGA DE CANTANHEDE, construído única e exclusivamente a partir de Baga, casta que conhece na região de Cantanhede a maior mancha contínua da Bairrada. A cor rosada aberta, resulta do desengace total das uvas e de uma prensagem pneumática muito suave, clarificação estática natural e fermentação em inox a baixa temperatura, de forma a potenciar-lhe os aromas. Igualmente varietal, mas agora da casta Merlot, surge o rosé NELSON NEVES, casta que Mário Neves, um globetrotter do mundo dos vinhos, escolheu para figurar em todos os seus vinhos.

Nos blends, surgem à cabeça os rosés que acasalam a Baga com a Touriga Nacional. O QUINTA DA MATA FIDALGA é o primeiro que destacamos, sobretudo porque foi o mais recente vencedor da categoria no Concurso de Vinhos organizado pela Confraria dos Enófilos da Bairrada. As uvas Baga (60%) e Touriga Nacional (40%) foram colhidas manualmente, a fermentação ocorreu em depósitos de inox, tendo sido interrompida quando o teor de açúcares era de 12 g/l, daí ser ligeiramente adamado. O QUINTA DO ORTIGÃO rosé casa as mesmas Baga e Touriga Nacional, apresentado-se numa bonita cor provençal. As uvas foram totalmente desengaçadas, a maceração pelicular foi feita a frio e a fermentação em cuba de inox a 15 graus. Com uma cor mais cereja, surge o QUINTA DAS BÁGEIRAS, rosé que privilegia igualmente a Baga e Touriga Nacional, mas mantém um cariz fresco, seco e gastronómico. À semelhança dos anteriores, também este não passou pela madeira no processo fermentativo. LUÍS PATO usou uma fórmula tradicional na Bairrada, fermentando conjuntamente a uva tinta (Baga) com a branca (Maria Gomes), as mais plantadas nessa vasta região que é a Beira Atlântico. Deste blend resultou um rosé de cor mais acobreada, com um baixo teor alcóolico (11,0%), que o produtor recomenda sobretudo para o Verão.

Para o final deixámos propositadamente um rosé pioneiro na Bairrada, sendo aquele que assumiu pela primeira vez que os rosados podem ser vinhos complexos, estagiados, sem perderem a elegância e mostrando uma versatilidade que pode competir com tintos e brancos. Falamos do rosé QUINTA DO POÇO DO LOBO (CAVES SÃO JOÃO), idealizado em bom tempo pela equipa das Caves São João, feito a partir das castas Baga e Pinot Noir, tendo fermentado parcialmente em cuba de inox e em barricas avinhadas de carvalho, com battonage de 5 meses. Não é por acaso que figura repetidamente entre os melhores rosés nacionais, constituindo-se como uma bandeira desta casa quase secular, granjeando admiradores entre e fora de portas. Pode, e deve, ser um modelo a copiar por outros produtores, com garantia e sucesso.

Todos estes vinhos rosés podem ser adquiridos nas lojas da Rota da Bairrada (Curia, Oliveira do Bairro e, até Setembro, Vagueira e Tocha).

 

A Lei do Vinho

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